A generosidade de Walter Zimermann
Artigo do jornalista, escritor e radialista Walter Zimermann no jornal O Paraná, de Cascavel:
Entre a realidade e a ficção
Walter Zimermann
Não é pelo fato de ter pouca
vocação para inventar coisas que devo ser contra a ficção. Provavelmente, até mesmo
uma falta de competência para certo tipo de invencionismo, não raramente
sedutor, que ao longo dos tempos consagrou e, ainda hoje, continua colocando
tantos autores no pedestal da glória - não raramente também da fortuna, sendo
essa uma consequência da outra.
Inclusive, Nelson Rodrigues
andou se envolvendo com o gênero, ainda na década de 1940, por meio de alguns
jornais. Depois veio a inesquecível Janete Clair, década de 1970, consagrando-se
por suas envolventes ficções, cujo gênero, ainda hoje, merece espaço nobre na
televisão, pela audiência que sempre proporciona. O fato de não ser essa a
minha praia não me permite deixar de ser atraído por um bem bolado folhetim
novelesco. Até porque ninguém é de ferro a ponto de desprezar uma bela trama.
Nem sempre tão bela ou tão boa. No tempo das novelas de rádio, para o bem ou
para o mal, cheguei a atuar como ator em algumas, no final da década de 1950.
Já quanto à leitura de textos do gênero, são outros quinhentos.
Entre ficção e realidade,
utilizo meu tempo com esta última, mesmo quando dura. Entre o razoável número
de títulos que ocupam as prateleiras de minha modesta biblioteca, existem
vários que tiveram a leitura interrompida. Um pecado. Justificável, para um
cérebro sobrecarregado pelo peso dos anos, mas complicado. Passado algum tempo,
você tem de começar tudo de novo, lá na primeira página.
No momento, leio Cascavel:
Uma Santa na Encruzilhada, recente lançamento dos irmãos Sperança,
Alceu e Regina. Estou com uma leve impressão de que, mesmo com alguns
intervalos, irei até o fim. Escritores e, por consequência pesquisadores, eles
vão fundo naquilo que se propõem a realizar. Os irmãos Sperança sempre têm algo
mais para revelar sobre a Cascavel de ontem.
De figuras ilustres (outras
nem tanto) que deram origem, a partir da antiga Encruzilhada, à cidade que hoje
lidera o Oeste orgulhando seus filhos, principalmente os adotivos. E quando
pensamos que já sabemos muito, lá vêm eles, os Sperança, com novas revelações,
dando-nos uma dimensão bem mais ampla da realidade sobre pessoas e fatos que
marcaram uma época que o tempo não tem o direito de sepultar. Nossos jovens
devem buscar nos textos de Alceu e Regina aquilo que não aprendem na faculdade.
E, como disse o filósofo cubano José Marti: “Nos preocupamos com todos os povos
e nos esquecemos da nossa própria história”.
A convite da Academia Cascavelense
de Letras, o lançamento ocorreu na sede da entidade, como parte da programação
de abertura das atividades de mais um Ano Acadêmico e posse da diretoria
recém-eleita. Esperamos que a aceitação pelo público, dos que se interessam por
essa inquestionável fonte de cultura, venha buscar em Cascavel: Uma Santa na
Encruzilhada uma oportunidade a
mais para conhecer coisas que a maioria de nossa gente ignora, parcial ou totalmente.
Mesmo sabendo como é difícil abrir cabeças que não têm espaço para a cultura.
Um fato, que seria triste se não fosse cômico,
ocorreu comigo após ter lançado Hienas e Crocodilos - Caso Tiago Novaes.
Perguntado por um ilustre e rico comerciante sobre a aceitação do livro, fui
até o carro e lhe trouxe um exemplar. Quando iria autografá-lo, abdicou, dizendo
que não costumava ler nem jornal. Ao sair dali, pude rir da sinceridade dele,
de sua santa e cruel ignorância.**
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